Julgava eu, que ao obter um GPS, a minha vida seria mais gratuita, poderosa e sorridente, porque ao ir por caminhos de cabras (estradas nacionais, que são bem melhores do que estava à espera) pouparia gasóleo, saberia melhor os caminhos e as várias alternativas de acesso e por isso, sorriria mais pelo simples facto de ter um GPS. Nada disso! Nada, nada disso! Bem, isto até certo ponto! Eu explico...
Hoje fiz viagem até à Beira Baixa para visitar os meus pais e como é a primeira vez que venho para estas bandas não querendo pagar portagens, não tinha a mínima ideia de como cá chegar. Assim sendo, pensei: “Tenho de arranjar um GPS.” Bem, para vos dizer a verdade, já pensei isto há muito tempo e já o tinha trocado: um GPS pelo livro “Os homens são de Marte e as mulheres de Vénus.” O dito cujo, ficou algum tempo engavetado e hoje foi a sua estreia nas estradas portuguesas no carro da belivadora-mor, moi même.
E assim foi, saí às 11h de Lisboa e pelos cálculos magníficos do GPS demoraria 2h 15 minutos e faria a módica quantia de 188 kms. “Tudo sob controlo.” – pensei eu. E lá fui eu, feliz e airosa pelos caminhos de cabras, aproveitando a paisagem das vacas a pastar, as papoilas à beira da estrada entre a relva verdinha, as mais belas nuvens no céu, uns choviscos, a camioneta a andar a 20km/hora à minha frente, os aldeões de boné a apagar sol, as batatas à beira da estrada na venda ambulante, os nomes escanifobéticos das localidades, os vales e as serras (vejam por ex. a imagem deste post, parece um vale encantado com casinhas de pedra e riachos), a barragem de Castelo de Bode, o carvalhal, etc etc... à medida que ouvia a voz “monocórdica” da senhora do GPS: “Na próxima vire à direita. Por favor mantenha-se à esquerda, saía na 3ª saída”... blá blá blá... Bem... que lindo que é o nosso país ao som de uma “magnífica voz monocórdica”!
Adorei, andar a passear por estes caminhos... Adorei, até esta parte da história! Ora, andava eu às voltas nos montes e vales, no meio das mil e uma serras que já tinha passado, atendido os milhentos telefonemas da minha mãe a saber se já estava perto... e eu, na minha ignorância sempre a dizer: “Sim, estou perto.” E estava, estava perto do local onde o GPS achava que era a minha meta. Assim o percebi, quando a voz monocórdica declamou: “Chegada ao destino”. E estava eu no “destino”: no meio de uma estradinha da serra, sem casas, sem carros, sem gente... a não fazer a mínima ideia onde estava!
Solução: mapa de papel, orientação, descontração e estupidez natural e seguir até ao fim da estrada até encontrar viválma à beira de alguma casa qualquer. E assim foi, de mapa em punho, com inquérito feito aos primeiros habitantes que fui encontrando, lá segui as indicações.
Conclusão: vida mais gratuita, poderosa e sorridente ao nível de diminuição do gasóleo só mesmo no parlapiê com vozes calorosas, desregulares e sim, humanas... à viva voz!
O GPS poderia ser um "paradise"... poder, podia! Mas não é, de certo!
P.S. Ah é verdade, cheguei para almoçar, às 16h15... passadas só... 5 horas... L